Cafés londrinos que parecem uma casa de subúrbio no Rio de Janeiro - an aesthetic. As grades na janela, os móveis, as plantinhas, as almofadas de tia tijucana. Na parede tinha até mesmo uma foto feita no Brasil, meninos saltitando pela rua vestindo camisas da seleção. Me desbloqueou memórias de infância e uma nostalgia mais barata que o flat white; cremoso e sem uma gota de amargura. Li meu livro, deixei gorjeta, saí na rua e pisei em outro país.
Caminhando em east London pelos towpaths às margens do Regents Canal portando uma câmera digital antiga com a lente suja e que nunca fez fotos muito satisfatórias apesar de ser Canon. Queria muito comprar uma portátil com zoom óptico decente (mínimo 10x) para deixar sempre na bolsa e também para levar em shows, já que o iphone deixa muito a desejar quando não se está na primeira fila. Infelizmente o mercado das portáteis foi engolido pelos celulares - que sim, fazem fotos melhores, mas só do que está perto.
(Almocei no Arepa, venezuelano gostosinho e acessível numa localização bastante agradável para curtir uma manhã de eurosummer; mas essa caipirinha estava amarga)
Carshalton village é uma belezinha. Fica em Sutton, no sul de Londres e o único porém é ser o sul de Londres - ou seja, meio ruim de transporte. Difícil fazer uma foto sem meia dúzia de carros passando em frente. Não vi muitas lojas também, a high street é bonitinha porém modesta em termos de opções.
Porém um lago cheio de patinhos, gansos e garças tendo à sua margem um pub com cara de mansão vitoriana e um casarão belíssimo do século 17 que além de museu também é salão de chá com vista pra tudo isso? Compensa muita coisa.
P.S.: obviamente fiz amigos felinos. Essa pretinha ameaçou fofura e me deixou fazer um carinho, mas logo em seguida partiu calçada afora e adentrou um portão de ferro. The locals are friendly, but not really into conversation.
Essa luminária laranja meio mid century e foi a primeira coisa que eu comprei no fatídico site Temu. Que a princípio eu achei mais caro que o Aliexpress, mas pelo menos já insere o valor do imposto no preço produto e você não tem aquele momento desagradável de ver a taxa sendo adicionada antes de pagar. E a navegabilidade do site é muito melhor do que o horrível Ali. Pena que o material da lâmpada não tenha o brilho luxuoso do original (que é de vidro, não plástico vagabundo) e que ela não combine com lugar nenhum da minha casa. Bom, custou centavos. E curti sua luz levemente alaranjada por alguns dias em cômodos aleatórios antes de guardar no sótão. Maybe someday.
As blusas são uma collab da Uniqlo com a Comptoir des Cotonniers, uma marca francesa dos anos 90 que, pelo que vi na internet, está em apuros financeiros e arriscando encerrar atividades. Lembrei dos editoriais com vibe clean girl parisiense que eu costumava ver em revistas e que as modelos eram quase sempre mães e filhas. As camisas são de linho, em tamanho generoso e me vestiram tão bem que não consegui escolher entre as cores disponíveis; trouxe ambas. Vai ser o uniforme do verão.
Respectivo fez kasnocken - um prato austríaco com pasta spaetzle, cebola e queijo. O bacon foi uma adição autoral, mas ficou muito bom.
Mudei as prateleiras da cozinha. Saíram as tábuas finas de madeira que não ocupavam a parede inteira e entraram as Lack da Ikea, que por serem flutuantes não precisam de suporte mas eu não quis furar a parede de novo e nem descartar essas mãos francesas de ferro que acho lindas. Ia pintá-las de branco, mas gostei do contraste. Enchi o espaço com minha louça neutra, objetos de rattan/madeira e uma jibóia aquática pra dar vida. Não consigo decidir qual a função desse cantinho. Queria comprar uma cafeteira bonita e transformar na “área do café”, mas não tem tomada ali e, enquanto não me decido a quebrar a parede pra mudar isso, fica como está. Evitar a fadiga.
Esteve lindo o meu philadelphus - ou mock orange. Espero o ano todo para sentir o perfume cítrico dessas flores; infelizmente a árvore é realmente feia e triste fora da floração, e mesmo durante o ápice as folhas costumam se cobrir de micro insetos pretos desagradáveis à vista. Esse ano planejo dar uma boa poda na esperança de que melhore o aspecto, mas sem grandes expectativas. No fim das contas o que importa são as três semanas de beleza e cheiro de laranjeira.
Por fim o bolinho sem graça que comprei pra estrear minha boleira nova. Incrível nunca ter existido uma na casa de alguém que gosta tanto de bolo, mas retificado o erro. O bolo era apenas figurante para fotos, mas cumpriu o papel com o bônus de ser gostoso. A boleira é da Amazon, o bolo do Tesco e poucas coisas são mais satisfatórias do que um sucesso barato.
Por aí com o celular num dia aleatório de ferevereiro. A idéia era fazer uma “colour walk” (fotografar tudo o que encontrar pelo caminho numa cor à sua escolha) a fim de me motivar a seguir com as minhas caminhadas. Já que o ânimo de fazer academia (como o mundo inteiro parece estar fazendo) não chega em mim, vamos pelo menos tentar o desafio dos 10 mil passos diários.
Mas é claro que não achei quase nada interessante na cor que escolhi - amarelo - ou eu não estava inspirada, ou o dia estava muito cinza, ou o frio estava brutal e eu, sem luvas, com preguiça de tirar as mãos de dentro do casaco que inclusive não estava dando conta de me aquecer (spoiler: foi tudo isso junto) e desisti no meio. Agora repasso para você a brincadeira de achar algumas das coisas amarelas que vi.
O café/bar da primeira e última foto me fascina. É um puxadinho diminuto que parece ainda menor ao lado do gigantesco viaduto do metrô que atravessa a rua por cima dele. Tem uma fachada meio vintage (meu fraco são letreiros tradicionais de pub e placas de neon) e o interior labiríntico e mal iluminado abriga uma infinidade de cacarecos, souvenirs, sofás e poltronas de veludo, luz vermelha de bordel e paredes cobertas de porta-retratos e pôsteres. É como se fosse o porão da casa de uma tia excêntrica e meio slutty que prepara um expresso martini nota dez. Por sinal preciso voltar lá com a câmera e tomar outro(s).
Os bulbos de narciso que plantei nos vasinhos na frente da casa estavam me esperando em flor quando cheguei de viagem. Eu acho que já posso declarar que estamos semi oficialmente em situação de primavera.
Faz um tempo desde que apareci aqui em tempo real né? (digo tempo real porque andei fazendo uns posts datados de meses passados, para tentar preencher buracos na cronologia desse site; se você não viu eles estão logo aqui embaixo e farei outros) É que depois do fracasso da minha tentativa de transferir meu domínio para o Blogger eu perdi um pouco do entusiasmo. Meu provedor disse que “não era possível fazer o domínio abrir um site blogspot.com” e eu não entendi, já que muitos de vocês aqui têm domínios hospedados no Blogger.
A cada vez que eu falava com um atendente do suporte eu ouvia uma desculpa/solução/desinteresse diferente. Chegou a data em que eu precisava renovar e, para não dar mais um ano de dinheiro para quem não estava sendo útil, eu transferi o domínio às pressas para o Tumblr - já que tenho um blog aqui há anos e eles inclusive já hospedaram o hellololla ponto com no passado.
Só que eu gosto do Blogger. Acho mais estável e confiável, afinal eles estão aqui desde os primórdios da blogosfera brasileira. E por algum motivo que desconheço quem tenta acessar meu domínio usando o “www” no endereço dá com a cara na porta e pensa que eu deletei o blog. Perguntei ao suporte do Tumblr como resolver isso e eles estão me ignorando há uma semana. *insira emoji de palhaço*
Em resumo: o hellololla ponto com agora é no Tumblr (sem o “www”, please), com uma cópia no Blogger. Por via das dúvidas estarei atualizando ambos, então você pode acompanhar por onde preferir. Assim que eu conseguir um provedor DECENTE eu tento migrar tudo de volta pro Blogger. :)
Eu já tentei manter blogs em uma infinidade de plataformas e todas elas acabam me decepcionando depois de algum tempo. Até hoje quando abro os arquivos antigos do meu blog no Tumblr e vejo que eles redimensionaram TODAS AS FOTOS para um tamanho pequeno e que para consertar isso eu tenho que deletar e repostar cada um daqueles posts eu realmente tenho vontade de desistir e ficar só com as redes sociais.
Mas por outro lado eu não gosto da idéia de deixar toda a minha presença e história na internet nas mãos de aplicativo de bilionário e seu algoritmos injustos, estúpidos e comprados, disputando atenção com reels de gente fingindo que está cozinhando o gato, que está abraçando jesus, que tem três pernas, comendo porcarias em formatos fálicos, ostentando a cor do olho dos filhos, inteligência artificial criando arte artificial, papo de coach, nazista e incel, bots de Only Fans, gente que posta absurdos com o único objetivo de engajar e todo esse esgoto arquitetado para chocar e gerar cliques.
I mean, não vou deletar todas as redes porque também as uso para trabalhar - e é lá que quase todo mundo se encontra. Há uma praticidade inegável em postar em segundos algo que levamos horas pra criar aqui (e ninguém ver, rs), em ter conteúdo forçado goela abaixo sem precisar ir buscá-lo, em saber dos seus amigos sem ter que perguntar. Mas talvez seja bom de vez em quando fazer esse consumo mais honesto, simples e intencional.
Meu cafofo aqui pode ser pequeno e meio esquecido, mas pelo menos é limpinho e bem frequentado.
Eu sei que já disse isso antes, mas vamos lá de novo tentar arrumar a casa e tirar as teias de aranha das paredes.
Descobri recentemente esse pub chamado The Hoop. Fica em Stock, uma pequena village na cidade de Chelmsford. O lugar não tem quase nada além de dois pubs, um café bonitinho (vi bolos interessantes na vitrine, preciso explorar) e algumas imobiliárias, mas é bem cuidado e as casas são uma graça - e caras, porque é óbvio que eu já olhei os preços no site do RightMove.
Enfim, descobri o pub por acaso mas já voltei duas vezes porque a comida é muito boa. Nada “gourmet”, mas tudo muito bem feito e bem apresentado. Destaque especial para os chickpea fritters e essas batatas fritas perfeitas - fininhas, como deve ser. Cortar uma bata em quatro, fritar e chamar de batata frita pode até estar semanticamente correto mas é um acinte à arte. A obsessão desse país com “wedges” e batata frita grossa precisa acabar.
Depois passei na Chigwell Nursery para comprar bulbos de narciso e plantar nos potes na frente da casa. Ano que vem a primavera vai ser mais bonita no meu jardim porque vou focar em tirar as folhas mortas antes que elas virem pilhas mais altas que o monte Snowdon e plantar bulbos no outono para que em ferevereiro/março os canteiros estejam cheios de narcisos tete-a-tete, snowdrops, crocus, primroses e muscaris.
Recebidinhos pagos: velas da White Company. Eu sinto que meu PIB pessoal cai a níveis sudaneses sempre que entro nesse loja; a vibe de riqueza clean me faz sentir uma sem-teto que não toma banho há uma semana. Passei 10 minutos alisando um cardigã de cashmere tão macio, tão branquinho e tão acima do meu orçamento que a vendedora deve ter desinfetado a peça assim que eu me ausentei do estabelecimento. *risos proletários*
Enfim, a vela estava na promoção e um rapaz educadíssimo (fingiu muito bem não ter horror de pobre feito um Caco Antibes britânico) pôs a caixa numa sacolinha minimalista com laço de fita, pôs papel de seda por cima, BORRIFOU PERFUME em tudo e me entregou com um floreio. Acho até que ele me chamou de “madam”. Resolvi entrar no papel de dondoca que me foi designado e saí pelos corredores do shopping sacudindo a sacola e deixando para trás um rastro de fragrância cara. Eu amo comprar em loja de rico sendo pobre porque, não estando acostumada a esses mimos, é sempre bom recebê-los.
(estou economizando para comprar o cardigã)
Dia de Natal. Como a minha ceia é à brasileira e foi preparada e consumida no dia 24, hoje estávamos de barriga e geladeira cheias e sem nada pra fazer. Eu queria ver água, sugeri Harwich mas ele teimou que preferia Mersea porque “de repente o pub bom vai estar aberto”. Aham.
É LÓGICO que nem o pub bom, nem o pub ruim estavam abertos. O pub hotel estava, mas apenas para hóspedes. As velhinhas sentadas à mesa mastigando yorkshire puddings com suas coroas de papel crepom na cabeça secretamente rindo da nossa cara quando a garçonete nos mandou dar meia volta e sair por onde entramos. Bem feito, Mister.
Sentamos no carro com cara de bunda e fomos ouvir o discurso de natal do rei. Quando Carlinhos disse “the queen and I” eu pensei por um segundo que a mãe dele tivesse ressuscitado tal e qual Jesus na páscoa - até me dar conta de que ele estava falando da esposa. A falecida foi rainha a minha vida inteira, vai levar tempo até disassociar. Sorry, Camilla.
Mas a mini road trip não foi totalmente em vão. Passei alguns bons minutos na praia ouvindo gaivotas fazendo barulhos extraordinários umas para as outras, chafurdando minhas botas na lama da maré baixa, descobrindo o que é um “pontoon” (basicamente uma ponte que bóia), coletando artigos de origem duvidosa na areia, passando frio e vendo outro natal ir embora, tão rápido quanto chegou.
Daqui a cinco minutos ele volta.
(envelhecer é tipo ver o tempo embarcar num shinkansen e se mandar a 300km/h pra longe de você que fica largada igual uma pateta na estação com uma mala pesada de planos e sonhos)
Só isso mesmo. Feliz Natal. :)